quinta-feira, 3 de julho de 2014

A vacinação...

O Baby Gus está a ser vacinado no sistema público de Moçambique. A médica explicou-me que era o mesmo e que era gratuito. Só pago as vacinas extra, que não entram no sistema nacional de vacinas.

Da última vez que o Gus foi vacinado, lá entrámos nós, e tudo a olhar, porque simplesmente não é costume os expatriados aderirem ao público.

Bom, estava eu na sala de espera e dizem, "As vacinas serão na rua"...

(antes disto, a Dina tinha pedido para sair mais cedo porque havia uma campanha de vacinação e ela queria levar os filhos dela)

Eu levanto-me e digo "Sra enfermeira, desculpe, mas o Gustavo vai levar a vacinação normal obrigatória, não vai ser nada da campanha". Pensando eu que havia uma distinção das vacinas normais e as da campanha, porque via como um tempo extra para as pessoas que não tinham levado em tempo certo.
A senhora diz simpaticamente "Não mãe, todos levam, mas é na rua..."

Eu, engulo a seco e digo, na rua?! Mas não acha que é um pouco violento?!
"Mãe, todos são vacinados na rua"

Pronto, lá me sentei, numa cadeira sem costas, a analisar os 50 bebés que lá estavam.
Todos hiper agasalhados e o Gus de calções, porque apesar de estar um pouco de frio, pensei que era mais cómodo para não ter de o despir. Bem dita ideia, quando me chamaram, com mais umas 5 mães, lá fomos nós para a rua, assim como exemplo, parecia as mesas de voto com uma cadeira de plástico para nos sentarmos e segurarmos as crianças.

Começa o processo de despir as crianças, e claro, estava frio e começa tudo a chorar, tudo menos o Gus e eu a achar que era mesmo inteligente e a tentar esconder o meu medo.

Criança 1 é despachada, sai a chorar, semi despida, e lá foi a mãe para dentro do edifício para o vestir
Criança 2 é despachada e chora desalmadamente...e aqui já estava a sorrir com os meus nervos visíveis...
Criança 3....e aqui já nem me aguentava...só queria fugir dali.

Chega a altura do Gus . Sento-me na tal cadeira, mostro uma perna e pumbas, Gus a chorar, eu já a tremer toda, enfermeira a pedir para o virar para dar noutra perna, e pumbas, outra picadela, toma algodão e vai à tua vida....
Agarrei o Gus, aguentei-me estoicamente até chegar ao carro. No carro chorei, não por ele, mas por mim, pela aquela tensão que se estabelece e vai aumentando...

Vendo agora friamente, e ao contar aos meus amigos que me conhecem "pré- África", pensar em vacinações na rua, seria algo impensável para mim. Era mesmo. Jamais admitiria tal coisa, ainda mais ao meu filho. Mas aqui, aqui tornei-me mais tolerante, aprendi a ser descomplicada,  mais boa pessoa, mais simples, e isso sim, fez-me mudar muito, e até acho que para o melhor!

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