quarta-feira, 26 de outubro de 2016

As colagens

A escola do Gus, apesar de ter uma parte da educação que eu quero para ele, tem ainda lacunas quanto ao ensino. No entanto, por vezes surpreendem-me com estas maravilhas...





Segundo a legenda "Gugu a fazer a sua cidade...."

Uma boa surpresa


Estava eu, no meio dos meus relatórios...

chega a Claudia e diz "veja lá se gosta..."

"Ricoffy bem batido com muito açucar!"

terça-feira, 25 de outubro de 2016

Veio um tufão e ninguém foi avisado...

Parece mentira, mas foi o que aconteceu. Um tufãozinho, que destruiu metade da cidade, e ninguém foi avisado.

Eu tinha acabado de sair do estritório quando, começa a chover, em segundos começa os ventos, e logo a seguir deixei de ver o caminho. Cairam 2 árvores ao meu lado, e 1 à minha frente. Chovia pedra, tudo abanava, os paineis de publicidade voavam, chapas de zinco idem, e as ásvores eram arrancadas pela raiz.
Eu fui a conduzir bem devagar, a 10 à hora, a sair da estrada várias vezes, e com uma visibilidade de um palmo. Cheguei a casa, com água até aos tornozelos...
Infelizmente houve muitos prejuizos, e pior que isso, houve mortes.

Um dia que tão cedo não irei esquecer.

 Isto foi o fenómeno que aconteceu... (aviso recebido após tudo ter acontecido)

 Esta pedra a cair no carro, era assustadora.

 Um dos muitos acidentes, na marginal
 Frente ao meu escritório, Av Tomás Nduda

 Av Julius Nyerere


 A marginal, a zona mais afectada


segunda-feira, 24 de outubro de 2016

A primeira aula de natação do Gus...e correu tão mal

(para dizer a verdade, a priimeira aula sozinho, numa escola nova, com professores novos, porque ele anda na piscina desde os 3 meses)

O Gus, que sempre andou na piscina e já sabia fazer algumas coisas, este ano regrediu. Eu, que não achei piada, decidi po-lo na "melhor escola de natação da cidade". 
Cheguei, e segue o que aconteceu

Chegámos e visto o gus!!! O instrutor pôs o chouriço à volta do gus e atira-o lá para dentro!!! Assim! Quando vejo o gus aos gritos a chamar por mim, chamo o professor e ouço um " a mãe vai lá para o fundo porque está a interromper" .... calei e até achei por momentos que eles estavam a fazer o trabalho deles!
Até que tive uma um sentimento estranho e pensei, atiraram o meu filho para uma piscina enorme sozinho e ele deve estar em pânico por estar ali! Dei 2 gritos e tiraram o gus, entregaram-mo e foram embora! Quando comecei a desatinar, aparece um senhor, o treinador da competição (penso)! Expliquei educadamente, mas nervosa e a chorar de raiva, que ele não tinha nada a ver, e que o que fizeram ao meu filho era desumano, e que vendiam a escola como sendo a melhor e que não passava que uma cambada de adeptos! O senhor foi de facto muito educado, aliás, foi ele que conseguiu resolver a situação toda.
Eu, nervosa, dizia que aquilo não se fazia a ninguém, e que é uma criança que nem 3 anos tem...
Ele obrigou o treinador a vir pedir desculpa,e eu disse " em que parte é que me escapou de perceber que o meu filho que nem 3 anos tem, é atirado para a piscina sozinho???" Resposta " nós somos obrigados, mas está frio!" Passei-me, e continuei a barafustar!!! Já estariam uns 3 monitores, e eu a explicar que saber nadar, não é o mesmo que saber ensinar a nadar...
 Com calma aparece uma professora e  pede para ser ela a por o gus na água, deixei, porque estava com medo que ele ficasse com medo!!! Correu bem!!! 

Depois disto disse mais umas boas verdades à direcção, professores e afins.... 
É assim aqui o maravilhoso ensino, atiram as crianças para dentro de água e olha....safa-te, isto na melhor escola da cidade de natação

O meu grande dilema agora é tentar arranjar uma escola onde de facto ensinem a nadar, e onde vão para dentro de água com as crianças.

quinta-feira, 20 de outubro de 2016

Um Fim de semana, não programado

Quem me conhece, sabe que sou um pouco controladora. Uma pessoa de rotinas e que tudo tem de ser planeado. Não gosto de programas à útima da hora, não gosto de coisas em cima do joelho.

Quando neste último Fim de Semana, numa sexta as 19h, o Ar diz "amanhã vamos para o Bilene", estranhamente eu gostei da ideia e logo organizei as coisas mentalmente.

Ficámos num lodge bem simples, sossegado e onde ainda pudemos jogar à bola.




Mãe, mãe olha uns "pixis"

Decidimos comprar um aquário lá para casa.
Andamos agora a ensinar o que se pode e não se pode fazer.
Ontem lá apanhámos o Gus a dar umas boas trolitadas no aquário e a dizer "xai daqui pixi"...

A coisa positiva desta compra, é que quando passamos o aquário para azul significa que é hora de ir dormir e a criança vai enganada e sem o tipico, não quero dormir!!!

sexta-feira, 14 de outubro de 2016

As Comadres

Ontem, para grande surpresa, subimos ao estatuto de Comadres na academia do Bacalhau

Depois desta subida de estatuto, ninguém nos pára. O céu é o limite mas, por agora ficamos contentes por autotitularmo-nos como "as mais engraçadas da academia", um elogio que merecemos!!! 

Daqui do alto over and out!!! :)



quinta-feira, 13 de outubro de 2016

Quando as leis não têm lógica

Há uns dias foi regulamentado isto....

É mesmo, passámos a ter uma lei em que, quem for apanhado a dar dinheiro e até comida em via pública pode apanhar uma multa, uma multa que pode até aproximadamente 60€.
Se de facto, tenho visto muito mais gente a pedir, e  se de facto vejo que há muita gente a sustentar-se por este meio, e que os torna viciados deste dinheiro fácil, sei também as dificuldades em que muitas familias vivem. 
Nos últimos 6 meses houve uma subida de preços para o dobro, para todos os alimentos. Isto é insustentável.

Pessoalmente, não dou a muita gente na rua, tenho uns que já os conheço e que me acompanham desde que cheguei. Mas admito que já comprei comida e já dei a muitos. Aliás, é raro sair de um restaurante com as sobras e não ter alguem a pedir para dar a minha comida.
A minha revolta, não é com a tentativa de controlo da medicidade, mas sim o modo como querem fazer. Porque não dão oportunidades às pessoas? Porque não ensinam uma profissão? Porque não ajudam as familias com os deficientes?

Tenho também que ver mais à frente. Conheço plataformas, organizações que estão a alimentar estas centenas de pessoas diáriamente com sopa, pão e refeições quentes. E como ficam agora?! Deixam de o fazer, e a fome passa a andar na rua? Como se faz? Viramos a cara de deixamos as pessoas morrerem? É assim que pretendem terminar com a pobreza extrema?

Esta lei para além de não ter lógica, é uma lei desumana. É uma lei que foi feita, não para ajudar, mas sim para que a humilhação humana aumente. Não sou a favor, e da minha parte, irei continuar a dar sempre que possa.

terça-feira, 11 de outubro de 2016

Ser mãe em Portugal e ser mãe em Moçambique

Após ter entrado em alguns foruns de mães, decidi escrever uma breve comparação como vemos a maternidade em dois paises totalmente diferentes.

Portugal
- Grávida: 10000 exames para o pré, o durante e o pós
                - não sei quantas ecos e agora com a moda das ecos 4D
                 - nada se pode comer, beber...nada
                 - tudo olha para uma grávida que fuma
                 - tudo repreende uma grávida que bebe café
                  - qual é mãe que não vai para as aulas pré parto
                   - a sua barriga tem semanas e dias
- quando já se é mãe - são as teorias do leite, do açucar, da carne, dos legumes, da fruta
                                   - amamentar até aos 2 anos é normal
                                  - são as teorias de como ele dormir
                                  - falam em meses, quando bebe já tem 3 anos...36 meses....ou algo assim
                                 - são teorias do sol, nada entre as 11 e a 17h
                                 - são teorias das pomadas
                                 - só se oferece brinquedos para estimular
                                 - tudo tem que ter um toque fofinho, algo bordado, algo feito à mão
                                 - anda tudo com panos, e ai de nós se mostramos uma foto com um marsúpio
                                 - chuchas?!?
                                 - todas as palavras passam a ter um -inho
                                  - só se usa alimentos biológicos
                                  - viagens de 3 horas, auto estrada, estações de serviço...e ainda questionam se é seguro
                                  -  só têm 4, 5 meses para estar com o filho
                                  -  recebem um subsidio
                                  - todas choram quando deixam o filho na escola no primeiro dia, ou quando vão trabalhar
                                  - os quartos são feitos por encomenda, daqueles por catálogo e claro tem de passar pelo teste de qualidade de outras mães.
                                   - a moda agora é dar-se festas sem o rissol e sem bolos.
                                   - as festas são sempre em locais com 12 actividades para as crianças não morrerem de tédio
                                  - perfumes anti- melgas, ai não que isso faz mal ao menino.
                                  - vacinas...questionam tudo
                                  - escola - querem as teorias de ensino todas ali em funcionamento para que o seu petiz  seja o melhor
                                  - preocupações desta vida: quando se bebe água engarrafada,
                                  - natal e aniversários são repletos de prendas
                                  - quase todas as mães, tentam saber mais que os próprios especialistas. Temos as papa google, onde se consegue obter toda a informação e depois nada é seleccionado.


Moçambique (da minha perspectiva)
Grávida  -exame de SIDA e Hepatite, nada do resto de exames
               - pode-se comer tudo, tudo
               - e beber
               - As ecos conseguimos ver uma mancha preta...essa mancha é o bebé
                - a barriga tem meses
               - nada de filas prioritárias
              - na altura de ter o filho, nada de drogas e tudo a sangue frio
Com o Bebé -  vamos para a rua com ele passados 3 dias
                     - praia passado 1 mes
                     - vacinas na rua
                     - viagem de 8 horas, na estrada nacional e sem possibilidade de parar
                     - brinquedos, são raras as ofertas, mas carrinhos são o mais comum
                     - 2 meses para iniciar o trabalho
                     - grande alivio para ir trabalhar, precisava de ser gente e não apenas mãe
                     - nada de carrinho, é andar com eles às costas ou no marsupio
                     - 4 meses já estava no seu quarto, porque nós gostamos é mesmo de dormir
                     - praia é a toda a hora
                     - nada de coisinhas fofas, o mercado não tem nada disso
                     - os próprios hospitais tem anti mosquitos nos quartos
                    - a escola tem como principio, BRINCAR
                     - as festas têm de tudo, o frango, muito bolo, e muito sumo
                     - iogurtes, até há pouco tempo, o iogurte frresco mal havia no mercado, por isso teria que ser a sobremesa
                     - muita xima, muito legume e muita fruta
                     - andar muito descalço na areia da escola
                     - depois de um mes, deixei de falar em semanas
                      - depois de um ano, deixei de falar em meses
                      - preocupações cá de casa, tentar que ele não beba muita água da torneira
                      - Natal e aniversários, recebe 1 prenda
                      - Aqui a maternidade é vista como natural, não há nada de especial em estarmos grávidas, e normalmente até os especialistas dão poucas informações
                      - Muitos bebes saem da maternidade sem nome e demoram meses até serem registados (o Gus já saiu com nome, foi registado passado uma semana)
                    
Isto para dizer o quê?!!? Que tudo se cria!!

                           
                                

quarta-feira, 5 de outubro de 2016

segunda-feira, 3 de outubro de 2016

Adeus Padre Zé Maria

Conheci o Padre Zé Maria, nos últimos meses de vida. Não tive o prazer de o conhecer quando ainda tinha uma saúde de ferro, e onde lutava contra tudo e todos para manter a casa do Gaiato.

Conheci-o em Junho, e desde logo o olhar daquele homem impressionou-me. 
O Padre Zé Maria, tinha um fé inabalável, ele falava de deus com uma convicção e com uma sinceridade que poucos o fazem. 
O Padre sabia da minha falta de fé e de não acreditar no deus dele, no entanto, nunca, mas nunca me condenou. Disse-me várias vezes "ainda vais a tempo, minha filha, um dia vais encontrar.". É verdade, por ele fui à missa dos 25 anos da Casa e onde fiz questão de lhe dizer que estava ali por ele, vi um sorriso maroto e com o seu ar já frágil "e eu agradeço".
Deste Padre, eu conheço os sorrisos, as gargalhadas silenciosas que ele dava ao ouvir uma piada, e vi muito beijo. Sempre que almocei com ele, não havia dia em que os filhos não fossem pedir mimos. Mesmo doente e frágil, nunca recusou um beijo e um abraço. Na Casa, era constante os mimos que ele recebia por parte de todos os filhos, sabia os nomes de todos, os seus feitios e até descobria quem tinha feito disparates.
Quem o visse, mesmo frágil, diriam sempre que era apenas velho, mas não, era já muito doente, mas mesmo doente fazia questão de estar presente nas acções da Casa.
Estive com ele nas últimas semanas, e sempre teimoso, continuava a sair da cama para cumprimentar os visitantes.

Quis assim o destino, levá-lo e deixar aqui toda a sua obra. Olho para as centenas de filhos que ele deixou, com um olhar perdido, tristes, alguns inconsoláveis e penso sempre, ele não morreu, ele está ali, em cada canto, em cada teimosia, em cada menino resgatado da miseria e que consegue seguir o seu rumo, ele está ali, a lutar por todos.
Vi ali os mais velhos a chorar, e onde tive a oportunidade de me agarrar a uns quantos e senti o choro deles. Um sofrimento real. Vi também, pela primeira vez, uma aproximação dos meus afilhados a pedirem-me colo, um deles, o mais esguio de todos, até me deu a mão para o acompanhar. Tentei falar, porque eu sou assim, porque enfrento, mas nenhum sabia o que fazer, estavam simplesmente ali, sem saber o futuro, onde mais uma vez tinham sofrido uma rasteira.
Não acredito em deus, mas acredito na bondade, acredito em pessoas verdadeiramente boas, e ele era. Eu vi nos olhos dele. O Padre Zé Maria, deixou tudo, para se dedicar a esta obra que ele acreditava, e que salvou e salva tanta criança. 
A Casa do Gaiato de Moçambique, não é só uma instituição de rapazes, é uma escola, é uma casa, é amor. Ali temos uma grande familia onde todos se tratam por "mano" e onde temos a mãe e o pai. É uma familia de verdade, onde se dá uma educação e as regras para depois poderem ganharem asas. É maravilhoso assistir às visitas constantes dos Gaiatos adultos e dizerem que regressam sempre a casa. É de facto uma casa, uma familia e muito amor.
Por isso acredito que ele não morreu, ele está nos corações de todos os que conviveram com ele, ele está em toda a sua obra, ele está em todos os Gaiatos, ele está na ali, simplesmente ali, na casa do Gaiato.

Da minha parte digo, Adeus Padre Zé Maria!!! E da minha parte e do meu gaiato, obrigada por me ter aceite nesta sua familia!