sábado, 25 de janeiro de 2014

O Dux, as praxes, e as parvoices...

Antes de falar sobre a tragédia do Meco, se é que posso falar e dar a minha opinião, irei falar da minha experiência nas praxes.

Entrei na UCP Viseu, fui praxada dias e dias, por praxe encaro o que eu fiz. Pintaram-me a cara, fizeram-me cantar, contar azulejos, andar com sapatos ao contrário e por fim fizeram-nos comer no refeitório sem talheres. Se acho isto forçado, não. Se me perguntarem, e era só isto? Não havia mais, muito mais, mas sempre que achava que era uma humilhação eu recusava, mas havia sempre uns que se davam por voluntários em troca da sua fama de "caloiro do ano". Nunca aderi, sempre disse que se tivesse que fazer coisas como limpar casas de veteranos, ser escrava, e coisas afins, que me declarava anti-praxes.
Fui à latada, que é uma apresentação dos caloiros à cidade, fomos todos com sacos do lixo e penicos na cabeça, eu e mais 3 mil caloiros, no total da cidade. Até que aconteceu algo de grave, apesar de haver policia na estrada e tudo ser controlado, uma senhora não respeitou e decidiu acelerar, e eu fui disparada para o capot e dai para o chão. Aí tenho a dizer que todos, mas todos os veteranos foram adultos e responsáveis. Mandaram todos continuarem e eu, que não conhecia ninguém na cidade, fiquei com 3 deles, sempre a ver o que precisava, nunca fiquei sozinha, nunca senti uma falta de preocupação. Não precisei de ir para o hospital apesar da insistência de todos e de terem partido o carro à senhora.
Isto é a minha experiência como caloira.
Mas vi, na minha universidade, muita gente a ser humilhada, muita gente em cuecas, muita gente a achar piada ao seu estado de caloiro, e tudo para ser famoso e mais tarde pertencer à tal "comissão de praxes". Nunca a UCP como instituição participou nas praxes, nem se metia nesta tradição.
Também acho que as praxes não nos dão qualquer preparação para o futuro, nem para o mundo do trabalho. A mim, serviu-me para conhecer pessoas, boas e más, e para não me sentir sozinha. Condeno qualquer tipo de praxe que possa haver para mostrar a superioridade e hierarquia como há nas instituições militares e afins.
Quanto ao meu acidente, e até eu sair da UCP, todos os anos falavam e explicavam o que tinha passado a todos os caloiros e para que todos tivessem cuidado, mesmo com o transito parado. Aqui temos um exemplo em como, as pessoas não querem só praxar e humilhar.

Bom, agora falemos do caso do Meco.
Há muita coisa ainda por esclarecer, e há muita coisa para divulgar.
Mas há coisas que eu acho que se pode dizer. Todos os jovens sabiam para o que iam, todos concordaram, todos pertenciam à tal comissão de praxes. Todos sabiam que faziam praxes horríveis a caloiros e todos achavam bonito. Todos, mas todos alinhavam nesse espírito de praxar caloiros.
Todos condenam o Dux, mas a verdade é que nenhum foi obrigado a ir. As famílias já comentaram que todos estavam envolvidos nas praxes e que iam planear as praxes para o ano seguinte.
Não me venham dizer que só porque morreram são inocentes. Não o são. Tenho pena, claro que tenho, as famílias perderam os filhos de maneira parva e irresponsável, e pior não têm respostas. Mas agora não me venham dizer que foram forçados. Então ninguém notou que as ondas estavam com mais de 4 metros e que tal jogo era uma estupidez? Não houve um? Ou será que todos ambicionavam uma coisa, ser famoso no seu campus? 
Ser praxado não é isto, não é ser humilhado, não é ser forçado, não é levar à morte. É sim, dar a conhecer os caloiros e dar uma apresentação de tudo, e saber que não estamos sozinhos. O resto, são ideias de pessoas parvas.
Quando ao único sobrevivente, o Dux, acho muito mal ele ter amnésia selectiva, acho feio da parte dele. Um Dux não é só o representante das praxes, é um representante dos alunos (pelo menos na ucp era). Aos alunos da Universidade e que estão em silencio, acho que sim amigos, fiquem calados, é assim que se "prepara o futuro", encobrir um acidente é um exemplo para a sociedade. Cresçam e apareçam, mostrem que têm valores, remorsos e consciência, penso que é assim que se faz elementos da sociedade e não haver praxes onde nos leva a morte.


Sem comentários:

Enviar um comentário