quarta-feira, 2 de novembro de 2016

Quando se está longe

Quando me mudei para Moçambique, sabia o custo que isso iria ter a nível da minha vida familiar.
Sabia que seria difícil perder os aniversários, o crescimento, as piadas dos mais novos, as festas dos amigos, os jantares e convivios com a familia, etc.
Mudei-me com a noção que iria perder muito, mas que era necessário para eu poder dar uma volta à minha carreira e à minha vida financeira.

Passados quase 5 anos, o que todos vêem são as viagens, a melhoria de vida, a possibilidade de conhecer mais países, e normalmente o poder de compra. Todos analisam isso, mesmo os mais próximos. Nunca ouço uma palavra a perguntar como fazemos com as saudades, como fazemos com as datas de celebração, nada. Todos acham que como ganhamos (supostamente) mais, que temos uma vida maravilhosa e que passamos os dias na praia.

Passados 5 anos, eu vejo isto. Neste momento, o meu pai está internado, para ser operado e eu estou aqui, a 10 mil km de distância. Com o telefone colado a mim, à espera de noticias, e de umas SMS da Nana. Este é o custo que eu pago por estar tão longe. Ontem adormeci com medo de o perder, de não ter tempo de lhe dizer adeus, de lhe dar um último abraço e fiquei com o coração pequeno. Tão pequeno, que adormeci a chorar, a soluçar. Este é o preço bem alto por ter tomado esta decisão de sair do meu país para ter melhores condições de vida. Este é o preço de sentir que abandonei tudo para estar aqui. É este o preço.

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