Desde miúda que admiro a Sophia de Mello Breyner. Adoro-a. Na infância imaginava-a como minha amiga, a amiga que tinha a mesma paixão que eu, o mar. Sempre quis ser a sua Oriana. Sempre. Na escola, nas aulas de português, até tremia só de pensar que era dia de ler um poema dela!
Em 2000, a minha Sophia (como todos a conhecem através de mim) esteve na festa do Avante. Fui propositadamente à festa para a conhecer, para ver a senhora que foi a minha amiga de infância. A senhora que eu sonhava, agora como minha avó. No dia, na altura de entrar para a zona cultural, não tive coragem. Não fui capaz de entrar e falar com a minha Sophia. Disse na altura aos meus amigos que a adorava de tal maneira, que não podia aparecer assim, mal vestida, sem saber o que dizer. Na verdade, apenas queria dar-lhe um beijo, e dizer "o seu mar é o meu" e "obrigada por me fazer sonhar".
Quando cheguei a casa e contei aos meus pais, acharam que tinha perdido a minha oportunidade, o meu tempo de a ver e de lhe dizer como a sua escrita foi importante para mim.
O tempo passou, e em 2004 a minha Sophia faleceu. Quem me ligou, todos com com voz de pesar. Todos sabiam a importância que tinha para mim.
Este ano relembrei-a, na entrada dum avião, quando uma menina de caracois, veio meter-se com o Gustavo e ao perguntar-lhe o nome, ouço um "Oriana". Respondi logo, "tens nome de fada, que lindo nome!"
Tudo isto, para dizer que hoje enchi-me de coragem e escrevi umas pequenas palavras à D. Helena Sacadura Cabral. Continuo com o sentimento de achar que eu não mereço de a conhecer, mas desta vez contei a admiração que tenho por ela.
"Aqui nesta praia onde
Não há nenhum vestígio de impureza,
Aqui onde há somente
Ondas tombando ininterruptamente,
Puro espaço e lúcida unidade,
Aqui o tempo apaixonadamente
Encontra a própria liberdade."
(Da minha Sophia)
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