Tem mesmo, e é ao saber destas histórias que acredito que as pessoas têm uma capacidade de se ajudar, uma solidariedade que emociona.
Há umas semanas soube da vida do Joel por aqui, é uma reportagem longa e impressionate, que mexe com os nossos sentimentos, e que acabamos por dizer "tenho de ajudar".
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A casa era fria. Gelada. Filipa já se tinha queixado dúzias de vezes. Que
tinha os pés frios. E as mãos. E o nariz. Que andava sempre constipada. Joel, o
marido, sabia que era tudo verdade mas foi desvalorizando o assunto. Até que ela
engravidou. Uma grande alegria. E então, sim. Já se justificavam as obras para
tornar o T2 em Canidelo mais quentinho. «Fomos ao banco e requeremos um crédito
para obras. Pedimos trinta mil euros. O processo foi-se desenvolvendo todo, veio
a engenheira fazer a avaliação, e o meu gestor de conta disse que estava tudo
muito bem encaminhado, que o crédito estava pré-aprovado e iam só tratar da
burocracia para se assinarem os papéis.»
Joel Aguiar, 27 anos, tinha acabado de herdar algum dinheiro pela morte do
pai e, ao receber as boas notícias do banco, decidiu avançar com as obras.
Mandou vir os homens que costumam trabalhar com ele no negócio da restauração de
casas e puseram mãos à obra. Partiram paredes. Portas. Janelas. Arrancaram o
chão. Um dia, precisamente o dia em que o FMI entrou em Portugal, Joel estava no
telhado a remover as telhas quando o telefone tocou. No visor do telemóvel, o
número do banco. Atendeu e, do outro lado, a voz condoída do gestor de conta:
«Venho dar más notícias». Joel sentou-se. «O crédito voltou para trás. Foi
recusado.»
Faltam as palavras para descrever o que sentiu nesse momento. Estava no cimo
da casa esventrada, com o céu por cima da cabeça e a escutar o barulho da
destruição que os homens das obras iam fazendo, em baixo. Olhou para as nuvens,
incrédulo. Não sabe quanto tempo esteve assim, imóvel, numa conversa muda com
Deus. Tinha gasto parte do seu dinheiro, tornado a sua casa inabitável, estava a
viver com a mulher e a bebé (que entretanto nascera) na casa dos sogros, e agora
o banco recusava o crédito que parecia praticamente certo.
A obra parou, Joel e Filipa ficaram sem dinheiro para a concluir ou para
comprar uma nova, tiveram de ficar a viver com os pais dela. Puseram a casa à
venda, mas ninguém a quis comprar. Filipa engravidou novamente. Mudaram-se para
a casa da mãe dele, onde vivem há 8 meses. A Leonor tem 1 ano e meio. A Laura
tem 3 meses. Joel sente-se encurralado: «Sempre trabalhei, sempre fui
independente. Nunca quis viver em casa de ninguém. E agora estou de mãos e pés
atados.»
Foi assim que, certo dia, em desespero, decidiu criar uma página no Facebook:
«Querem ganhar uma casa? Adiram ao evento». A ideia é tentar angariar cinco mil
pessoas que se disponibilizem a dar vinte euros para entrar num sorteio: «O
vencedor ficará com uma moradia térrea inserida num terreno de quatrocentos
metros quadrados, a cinco minutos da praia de Salgueiros, por vinte euros.»
Joel Aguiar não sabe se o evento vai dar em alguma coisa, mas espera que sim.
Afinal, ele só queria tornar mais quente uma casa gélida, para receber um
recém-nascido. E agora só quer voltar a ter um teto para poder viver com a
mulher e as filhas. E deixar a casa da mãe, que já é tempo." (copiado do blog)
Fiz a tranferência e enviei uma mensagem a dizer que não queria participar no sorteio e que para mim, a casa deveria ficar para a familia. Como eu, fizeram umas quantas pessoas, que para além de ajudarem, abdicaram o tal concurso.
Esta semana fiquei a saber que o Joel, o senhor que está com grandes dificuldades, decidiu dar todo o dinheiro que já tinha juntado, à mãe do Rodrigo, para que ele possa ter outros tratamentos no exterior. Segundo o Joel, uma vida vale mais do que uma casa.
Agora digam lá, se isto não é ser boa pessoa, uma pessoa com que merece tudo, um pessoa com um fundo mesmo bom, não sei o que é.
Sou leitora do seu blog nunca comentei antes mas agora deixou me de lagrimas nos olhos e ainda acredito que Portugal tem bons cidadãos e homens que merecem muito mais d que este país pode dar!!
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