Hoje faz três anos que me mudei.
Três anos que deixei tudo para trás e vim para Moçambique com três malas, um visto de turista e 500€.
Vim com a ideia de morar em Vilanculos, um mês depois, sabia no meu intimo que não iria aguentar muito tempo ali, onde a luz e a água escasseiam.
Com um convite, desci para Maputo, onde tudo se começou a organizar graças à família de adopção Latif. Foram eles que me deixaram ficar em casa deles, que me alimentaram e que nunca me deixaram pagar nada. Nunca pediram nada, e só quando recebi o meu primeiro salário, achei por bem ajudar nas despesas, mesmo sabendo que não queriam, dei para me sentir melhor com a situação de estar hospedada gratuitamente numa casa de familia. Essa familia deu-me carinho, amor, um ombro, deu-me risos, tirou-me preocupações, deu-me atenção, deu-me lanches, deu-me muita conversa. Com eles aprendi muito sobre respeito, aprendi como deve funcionar uma familia. A minha sem contar com a nuclear, é toda muito disfuncional. À familia de adopção terei sempre uma gratidão (que nem sempre mostro), para toda a vida.
Foi com eles que conheci o padrinho do Gus e que me deu a ajuda para arrancar a nível profissional.
Consegui a vaga, e daí foi sempre a subir.
Em Junho de 2012 lá consegui alugar uma casa e remodelá-la, a modo que receber o Ar.
Em Dezembro de 2013 voltei a mudar-me para outra casa e em Dezembro de 2014 outra mudança.
Em três anos tive tantas mudanças na minha vida que só agora dou conta do que já passei. Noto que o meu corpo quer sossego, quer chorar, quer sentir-se triste, quer isolar-se. Ando numa guerra constante com a minha mente, estou numa fase que quero regressar e deixar tudo para trás. Quero voltar a sentir-me segura, a ter com quem falar, poder desabafar, ou estar em silêncio, preciso de sentir as pessoas que me conhecem há muito.
Nestes três anos, a minha maior mudança, foi ser mãe. Fui mãe, em África. Analisando sei que foi a melhor coisa que pude fazer. Aqui não há fricotes, não há luxos, não há demasiada roupa, nem brinquedos em excesso. Não há bitates educacionais, não há histerismos da amamentação, nem super mães. Aqui consigo ser simples, controlada nos meus desvaneios duma maneira que não o sou em Portugal.
Mudei, mudei tanto, que os meus amigos de Portugal, os poucos que ainda tenho o dizem. Mudei para melhor. Hoje sou mais calma, mais ponderada, com objectivos mais simples. Mudei também a minha visão consumista. Viver num país como Moçambique, dá-nos a capacidade de ficarmos felizes por termos um dia de praia, e com uns pregos para comer.
Nestes três anos, ganhei e perdi amigos. Chorei muito por um grande amigo ter-se ido embora (e agora voltou), ri muito, e como ri, aprendi muito, li muito, mergulhei muito, apanhei muito sol, comi muita comida moçambicana. Estes três anos fizeram-me crescer, fizeram-me arriscar, fizeram-me mudar. Só por isso já é positivo esta minha aventura. Se irá continuar, só o destino o dirá. Estou por cá enquanto for feliz, se é por muito mais tempo, isso é algo que só daqui a um tempo poderei dizer.
Quando te comecei a ler ainda estavas em Portugal, a fazer malas para a grande viagem. Desde então não parei de visitar o teu blog; agora com menos assiduidade, mas sempre com interesse. Se um dia eu voltar aí, vamos pôr a conversa em dia. Um abraço.
ResponderEliminarJu!! que bom ouvir de ti!
Eliminartenho saudades tuas e dos teus textos!!! Prometo casa se algum dia quiseres regressar!! bjs