Com este tema tão presente, dei por mim a recordar-me da minha primária.
Andei na Escola n6 de Corroios, com Prof Maria de Fátima.
A prof Maria de Fátima era idosa, tinha olhos azuis, era madeirense, e usava um fio com um olho também azul. Lembro-me que ela bebia em média 3 garrafas de água por dia, e que adorava matemática, e que nos obrigavaa escrever o ano sempre em numeração romana.
A minha professora era do tipo de professora que separava os alunos preferidos dos não preferidos. Eu era do lado dos não preferidos, e como tal tinha direito a réguadas e "canadas"(um cana partida nas pontas para doer mais) diariamente. Quando digo, que era todos os dias, não é exagero, eu, o Ricardo Calçada, uma Raquel, o joão Carlos, entre outros éramos as vitimas dela.
Se me perguntarem, o porquê de nunca contar aos meus pais, tenho ainda muito presente o que ela fez a um dos alunos em que fez queixas à mãe, e no qual foi chama-la a atenção.
A humilhação, o medo, o panico de quando ela me chamava era constante, e ainda hoje falo com rancor pela sua maldade. A profesora Maria de Fátima era adepta do bater, e do humilhar, de nos chamar nomes, de nos deixar indefesos, e ai de nós que chorassemos, isso seria ainda pior para nós.
Esta professora era apologista de muitos trabalhos de casa, lembro-me pelo menos destes, todos os dias, cópia, palavras dificeis, palavras de dicionário, composição, tabuada, contas, um desenho. Quando algum dos trabalhos ficava para trás, ela chamava-nos e batia, assim, sem questionar, sem nada. Lembro-me de quando chegava o meu caderno, para ela corrigir, muitas vezes tentava ir aoWC para me escapar de umas réguadas, ela, esperta, passava o caderno e esperava que eu voltasse para mais um castigo.
Tenho outra memória, na minha primeira semana de aulas, ao picotar uma ovelha em papel de lustro amarelo, cortei mal as patas do bicho, e ao contar o que fiz, levei umas réguadas de madeira.
Nunca fui das favoritas dela, talvez porque a minha mãe nunca fosse à escola a não ser nas reuniões, ou porque a minha mãe não tinha um cargo importante. Também fui das alunas que nunca deu uma prenda à professora, nem no natal, nem no fim de ano.
Quando se fala em trabalhos de casa, recordo-me da minha primária. E as recordações que tenho, são as piores da minha vida. A primária, para mim, ficou marcada pela violencia, e nunca, mas nunca pelos trabalhos de casa em excesso.
Lembro-me do meu último dia de aulas na primária, tudo a chorar, e eu a sair aos saltos, e a pensar, finalmente sai disto. Demorei muitos anos, penso que só venci o medo de um professor na Universidade, quando me fizeram falar disto. Outra grande recordação que tenho, é que nenhum dos meus colegas, nunca falava disto, nunca. Assim que chegava o recreio, eu era um deles, eu e os que tinhamos sofrido todos os abusos dela.
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